segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Anseio Eterno dos Corações Brutos

Uma existência por inteira
não é capaz de lapidar um coração.
E se acima não há nada que nos queira,
a busca eterna que vivemos é em vão.

Pois quando um desejo é saciado, outro aflora!
Por ele respiramos desde então
e já nada vale o anseio de outrora!
Revela-se como é bruto o coração.

E se retornos nulos não nos satisfazem,
eternamente em sangue quente rubro
angustiados em tão cruel viagem

que invariavelmente terminará em luto,
seguimos pobres em andarilhagem
no anseio eterno dos corações brutos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cores do Passado

"As cores pálidas do teu retrato
assombram-me ao cair da madrugada.
Lembram-me sempre do momento exato
em que tirei aquela foto desfocada.

Dizer-me-ia que é apenas passado.
Mas quem somos nós, senão a soma
do que já vivemos nesse mundo isolado?
Minha vida é circo e tu eras a lona!

Hoje em ti sou turvas memórias;
sou arlequim perdido, sem função;
sou parte da pior das escórias!

Por dentro de mim és degradação;
e se parte de ti a minha história,
vagarei desgraçado pela imensidão!"

segunda-feira, 8 de março de 2010

Querem proibir "palavrões" no estádio...

Creio que antes de discutir o assunto em si devemos colocar em pauta o próprio sentido de proibir : Quem proibe o faz porque considera o alvo da proibição algo errado e/ou nocivo à sociedade. Então, como proibir algo considerado errado apenas em um ambiente? Ora, não se pode falar palavrão no estádio de futebol mas, assim que colocarmos o pé na rua poderemos xingar o juiz e os pernas-de-pau e o time adversário com todo aquele estoque de palavras xulas que conhecemos? Que sentido há em proibir algo num lugar? Xingar no estádio não pode, mas na rua, na escola e na porta da igreja; no trânsito, no trabalho e na praia pode? É algo no mínimo dos mínimos incoerente.Mais além, minha visão de educador me diz que toda proibição mina qualquer possibilidade de autonomia, ainda que mínima, em prol da heteronomia, pois a proibição sempre vem acompanhada de punição, que torna o sujeito heterônomo quando não age por medo das consequências ao invés de não agir por saber que é errado. Enfim, proibir é agir contra a autonomia. Sobre o ponto principal, que motivos têm-se para proibir palavrões no estádio? Xingarmos uns aos outros leva à violência? Ou a ignorância é o fruto de todas as pancadarias oriundas dos campos de futebol e de todos os outros lugares? Por que não proibir a ignorância?Alguém me dirá : mas e as crianças que lá estão? E eu responderei : Ora, criança nenhuma tem grande assiduidade futebolística para que isso influa diretamente sobre elas. Ela têm sim assiduidade nas escolas, onde têm o primeiro contato com esse tipo de expressão através de outros alunos, quando não é na própria casa, através dos próprios pais. Por que não proibir o palavrão nas casas de família e nas escolas?E os idosos? Perguntar-me-ia outrem. Reponder-lhe-ia então que idoso nenhum vai ao estádio sem já saber o que o espera. Se já ia ao estádio na juventude, provavelmente estava lá xingando o juiz e o centro-avante ao perder o gol. Se passou a ir na terceira idade, o que é difícil, sabe o que vai encontrar e, além do mais, já estão acostumados a coisas piores como aposentadoria, INSS e saúde pública; transporte público, discriminação e descaso. Por que não proibir tudo isso? Resumindo : fico na dúvida se tal medida é fruto do desejo de aparecer ou da incompetência mesmo. De qualquer forma, um recado : se é pra fazer mal-feito, não faça! O povo já está acostumado a se virar sozinho sem o governo há muito tempo...