terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pária parasita

Talvez, por possibilidade
remota, um pária me defina.
Desempenhando papel nenhum
enquanto a vida desafina.
Desafinam ainda os pulsares
dele, o famigerado músculo
que bate, e bate, e bate
sem nem saber o porquê
crepúsculo atrás de crepúsculo.
Que se saiba também do perigo
a rondar aqueles cujo convívio
é maior comigo.
Semeio sentimentos e sorrisos
para depois colhê-los,
alimentar-me
e ir embora.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Perfume

A saudade é perfume que inebria.
Acaricia-nos resquícios ausentes,
remete, entorpece, memória fria
que já não aquece o que se faz presente.

A lembrança da chama é o que fica;
mas pensamentos são metafísicos :
como o doce odor de fragrância fina,
engana os sentidos, frágeis, tísicos.

O pouco tempo se esvai em ilusão
revivendo em metade o que já foi
na esperança de reprise; solidão.

Segundos perdidos, minutos mortos.
Saudade da saudade, num futuro próximo.
Um bolo sem fim de corpos de fumaça perfumada.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Anseio Eterno dos Corações Brutos

Uma existência por inteira
não é capaz de lapidar um coração.
E se acima não há nada que nos queira,
a busca eterna que vivemos é em vão.

Pois quando um desejo é saciado, outro aflora!
Por ele respiramos desde então
e já nada vale o anseio de outrora!
Revela-se como é bruto o coração.

E se retornos nulos não nos satisfazem,
eternamente em sangue quente rubro
angustiados em tão cruel viagem

que invariavelmente terminará em luto,
seguimos pobres em andarilhagem
no anseio eterno dos corações brutos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cores do Passado

"As cores pálidas do teu retrato
assombram-me ao cair da madrugada.
Lembram-me sempre do momento exato
em que tirei aquela foto desfocada.

Dizer-me-ia que é apenas passado.
Mas quem somos nós, senão a soma
do que já vivemos nesse mundo isolado?
Minha vida é circo e tu eras a lona!

Hoje em ti sou turvas memórias;
sou arlequim perdido, sem função;
sou parte da pior das escórias!

Por dentro de mim és degradação;
e se parte de ti a minha história,
vagarei desgraçado pela imensidão!"

segunda-feira, 8 de março de 2010

Querem proibir "palavrões" no estádio...

Creio que antes de discutir o assunto em si devemos colocar em pauta o próprio sentido de proibir : Quem proibe o faz porque considera o alvo da proibição algo errado e/ou nocivo à sociedade. Então, como proibir algo considerado errado apenas em um ambiente? Ora, não se pode falar palavrão no estádio de futebol mas, assim que colocarmos o pé na rua poderemos xingar o juiz e os pernas-de-pau e o time adversário com todo aquele estoque de palavras xulas que conhecemos? Que sentido há em proibir algo num lugar? Xingar no estádio não pode, mas na rua, na escola e na porta da igreja; no trânsito, no trabalho e na praia pode? É algo no mínimo dos mínimos incoerente.Mais além, minha visão de educador me diz que toda proibição mina qualquer possibilidade de autonomia, ainda que mínima, em prol da heteronomia, pois a proibição sempre vem acompanhada de punição, que torna o sujeito heterônomo quando não age por medo das consequências ao invés de não agir por saber que é errado. Enfim, proibir é agir contra a autonomia. Sobre o ponto principal, que motivos têm-se para proibir palavrões no estádio? Xingarmos uns aos outros leva à violência? Ou a ignorância é o fruto de todas as pancadarias oriundas dos campos de futebol e de todos os outros lugares? Por que não proibir a ignorância?Alguém me dirá : mas e as crianças que lá estão? E eu responderei : Ora, criança nenhuma tem grande assiduidade futebolística para que isso influa diretamente sobre elas. Ela têm sim assiduidade nas escolas, onde têm o primeiro contato com esse tipo de expressão através de outros alunos, quando não é na própria casa, através dos próprios pais. Por que não proibir o palavrão nas casas de família e nas escolas?E os idosos? Perguntar-me-ia outrem. Reponder-lhe-ia então que idoso nenhum vai ao estádio sem já saber o que o espera. Se já ia ao estádio na juventude, provavelmente estava lá xingando o juiz e o centro-avante ao perder o gol. Se passou a ir na terceira idade, o que é difícil, sabe o que vai encontrar e, além do mais, já estão acostumados a coisas piores como aposentadoria, INSS e saúde pública; transporte público, discriminação e descaso. Por que não proibir tudo isso? Resumindo : fico na dúvida se tal medida é fruto do desejo de aparecer ou da incompetência mesmo. De qualquer forma, um recado : se é pra fazer mal-feito, não faça! O povo já está acostumado a se virar sozinho sem o governo há muito tempo...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sinta o nível subindo

Eu quero morrer! Por aqueles que nem sabem da minha existência; por aqueles que sofrem sem entender a razão; por aqueles que choram sem ver o amanhã;

Eu quero chorar! Por aqueles que já não têm mais lágrimas pra derramar; pelos cubanos; pelos soviéticos que já partiram;

Eu quero gritar! Por aqueles que já estão roucos e sem forças; para aqueles que estão roucos de risos e prazeres;

Eu quero amar! Porque ninguém é Deus, e Deus é ninguém!;

Eu quero sorrir! De ironia, para aqueles que sucumbirão frente à verdade; De alegria, para aqueles que finalmente verão a luz do sol;

Eu quero viver! A vida prometida pelos nossos sonhos; a derrota daqueles que se opõem à verdade;

Eu quero morrer rindo! Para os que me sucederão; dos que não acreditaram!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Espelho

Andei pensando...

O bem e o mal, o certo e o errado, o decente e o indecente, o moral e o imoral; todos esses conceitos nada mais são do que "anti-corpos" artificiais criados por nós : reflexos da reações sentimentais/emocionais que determinadas ações nos causam.

Explico : o certo é certo porque nos faz bem; o errado é errado porque nos faz mal. Não são o que são por serem conceitos universais plenos em sua essência, mas sim por serem dependendes das reações humanas.

Se o ato de cortar um braço fosse extremamente prazeroso, esse ato seria considerado normal - e mais, talvez, devendo-se à proporção do prazer causado, um ato de homenagem a alguém; e, por outro lado, se abraçar fosse doloroso ou mesmo considerado uma enorme ofensa, certamente seria algo errado.

Esse pensamento talvez exima todo o "mal" dos considerados maus, pois, se para eles nada de ruim é causado pela dor, não entendem como errado atos brutais que vemos por aí.

Da mesma forma, os "bons" não devem ser vistos como virtuosos, pois seguem apenas sua ética própria : ver um animal ou alguém sofrendo lhes incomoda, e é por isso que prestam-se ao socorro, à luta pelo "bem estar" de todos. Ora, se toda a pobreza não incomodasse os socialistas, eles seriam capitalistas. Se a dor dos animais não incomodasse os vegetarianos, eles seriam onívoros. Ora, é tudo baseado no sentimento pessoal.

Definimos os conceitos do mundo baseados em nós mesmos. O ego humano é o centro da Terra.